terça-feira, 9 de setembro de 2014

Carolina em Donnelley

Por Celeste Murillo
[traduzido do blog http://teseguilospasos.blogspot.com.ar/2014/09/carolina-en-donnelley.html?m=1]


Em 1887, registrou-se a primeira operária gráfica da Argentina. Dois anos depois, nasce Carolina Muzzilli. Aos vinte anos, Carolina já era militante socialista e colaborava com a organização das operárias gráficas de Buenos Aires. Nesse momento, as mulheres tinham os piores postos de trabalho, trabalhavam por serviço feito e à “toque de caixa”, as demitiam quando engravidavam ou quando faltavam quando seus filhos adoeciam. As jornadas eram extensas. Os direitos, pisoteados.

Em 1906 houve uma greve muito importante e as mulheres participaram ativamente. Ganharam: conseguiram o primeiro convênio coletivo. Em 1907, nasceu a Federação Gráfica Bonaerense. Carolina organizou atividades sindicais com as operárias gráficas, montaram uma biblioteca, fizeram reuniões de mulheres. Não se contentaram com o que conseguiam, queriam mais. À partir da Federação ajudaram as lavadeiras a se organizarem e as assessoraram na sede da Federação com a ajuda de Julieta Lanteri (a primeira mulher que votou na América Latina, e que terá sua própria história) e as mulheres socialistas. Nesta sede, as operárias lavadeiras do estabelecimento “La Higiénica” (“A Higiênica”) organizaram a greve de 1912.

Carolina acreditava que as mulheres deveriam lutar pelos seus direitos, mas junto com os companheiros de classe, nos sindicatos. Então propôs uma luta dupla: entre as mulheres lutava para aliá-las aos trabalhadores, e entre os trabalhadores para que abraçassem as causas “femininas”.

Hoje continua ocorrendo coisas parecidas. Muitas mulheres vão trabalhar quando seus filhos e filhas adoecem. Muitas estão precarizadas. As jornadas de trabalho seguem sendo extensas, as vezes se estendem para o final de semana. Muitos direitos seguem pisoteados. Hoje ainda existe a Federação Gráfica Bonaerense. E, isso é o mais importante, têm mulheres e homens que tomaram para si a luta de Carolina. Não se contentam com suas primeiras vitórias, querem mais. Organizaram-se, mas não pararam por aí, seguiram. Ganharam a comissão interna, seguiram. Melhoraram as condições de trabalho, seguiram. Somaram-se às suas companheiras, seguiram. Fizeram uma comissão de mulheres, mas não se contentaram com o que alcançaram, seguiram. A patronal quis deixar-los todos na rua.

Hoje tomaram a fábrica, e produzem sob gestão dos trabalhadores. As mulheres estão junto, não se contentam com o que conquistaram, seguem. E Carolina está em cada uma das mulheres da Comissão de Mulheres, e em seus companheiros de Donnelley.


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