domingo, 20 de outubro de 2013

NOTA DE REPÚDIO A EXPULSÃO DE UMA JOGADORA MULHER NO TORNEIO DE FUTEBOL DA UNESP-MARILIA!!

Frente Pão e Rosas - Marília/SP

Na última segunda-feira (14/10) iniciou-se o Torneio de Futsal “Panelas Vazias” na Unesp de Marília, realizado pela Comissão de Esportes da unidade. Na abertura do campeonato, em que ocorreriam duas partidas, estava prevista a participação do time do Cursinho Alternativo da Unesp de Marília (CAUM), que possui, em sua equipe, uma jogadora, esta também militante do Grupo Pão e Rosas.

O fato da estudante ser mulher já havia feito com que o presidente da comissão negasse sua participação no campeonato, alegando que não se responsabilizaria por possíveis assédios ou danos físicos que aquela viesse a sofrer. Consciente de que tal impedimento não consta no regulamento do torneio e de ser a única responsável por sua própria integridade, a militante decidiu jogar com seu time naquele dia. No entanto, ao ver a participação da aluna em campo, o presidente interrompeu a partida e expulsou a jogadora, gerando uma reação espontânea de indignação tanto por parte dos demais jogadores, quanto por parte das torcidas. Como se não bastasse a atitude do presidente, a estudante ainda foi hostilizada pelo juiz da partida que, ao empurrá-la para que se retirasse da quadra, agiu como se a simples presença de uma mulher naquele espaço fosse um insulto.

As atitudes do presidente e do juiz refletem a maneira sexista com que nossa sociedade ainda concebe o esporte e naturaliza o machismo. Essa visão é constituída, em grande parte, na própria escola, em cujas aulas de educação física as separações por gênero indicam uma suposta fragilidade das meninas em relação meninos. Essa construção vem de tempos muito anteriores à conquista das mulheres ao direito de praticar esportes, pois, historicamente, características como força física e agilidade foram impostas como masculinas (cabendo aos homens esportes com mais contatos físicos e possíveis machucados como futebol, basquete e judô), enquanto fragilidade e delicadeza foram como femininas (cabendo às mulheres atividades delicadas como ginástica e dança, que não representavam um risco de causar lesões aos seus órgãos reprodutores). Coube, então, à mulher, um resguardo que garantisse seu papel como reprodutora (outra imposição social), tendo sido, nesse caso, sua falsa condição de “sexo frágil” um estabelecimento de ordem social, e não biológica.

Nós do Pão e Rosas repudiamos totalmente a forma como a questão foi tratada por este Professor, onde também se expressa a perspectiva opressora de que a mulher é a causa dos assédios logo deve ser retirado de inúmeros espaços públicos e atividades sociais. Sabemos que este problema não se centra na figura apenas de um indivíduo, mas se reflete em toda a sociedade, sendo extremamente latente na Universidade, que é elitista, racista, homofóbica e machista. Ademais, estamos cientes de que está de fundo um projeto de universidade, legitimado por uma estrutura de poder antidemocrática, que não colocará que tenhamos acesso a todos os espaços que quisermos, pois a exploração da mulher, contribui para a perpetuação da sociedade de classes.

Na sua grande maioria, os espaços acadêmicos só expressam o projeto de sociedade capitalista imposto. Vemos todo dia inúmeros casos de violência física e psicológica contra a mulher nestes ambientes e sempre as posturas da reitoria e direções é de tentar tapar o fato, como por exemplo, na própria UNESP o caso ocorrido no “Rodeio das Gordas”, a não colocação de ônibus que façam o trajeto da Universidade-moradia, além de inúmeros casos em inúmeras universidades brasileiras de assédios de professores à alunas, de estupros em mediações das universidades e moradias, na negligência das opressões nos trotes, no descaso com as trabalhadoras terceirizadas ultra-precarizadas, na falta de permanência para as mulheres da classe trabalhadora se manterem na universidade (creches, moradias, restaurantes universitários, assistência médica e outros).

O grupo Pão e Rosas se coloca radicalmente contra qualquer ato de caráter machista e lutamos por um mundo em que ser mulher não seja um impedimento em nenhuma circunstância. Nos colocamos na perspectiva de pensar e debater, com outros estudantes e grupos, ações que contribuam nesse sentido.













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