sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Na UNESP: movimento estudantil incorpora a luta pelos direitos democráticos das mulheres! Todas/os ao ato do dia 17/11, em frente à Reitoria!

A barbárie do "rodeio de gordas" cometida no Interunesp-2010, é expressão no mais alto grau de violência contra as mulheres. A criação de um padrão estético para as mulheres e a naturalização de sua imagem enquanto um objeto de consumo e prazer para terceiros fortalece ações como esta. Na Unesp, as reitorias e diretorias locais, em casos de assédios e estupros, já mostraram que não estão dispostas a romper com a lógica social corrente de opressão às mulheres deixando impunes os agressores. Da mesma maneira, Serra/PSDB e Dilma/PT manejam com toda destreza e frieza - próprio dos indiferentes - as necessidades das mulheres e o direito civil ao casamento homossexual segundo o jogo eleitoral por votos. Dessa forma, à todas e todos que estão dispostos à combater com completa intransigência é preciso se organizar.

O movimento estudantil da Unesp vêm avançando em seu programa conforme avançam os processos de luta das/os trabalhadoras/es e estudantes. O Pão e Rosas atuou em conjunto com as/os estudantes e trabalhadoras/es nas greves da USP, UNESP, UNICAMP e na Fundação Santo André, onde em cada qual se desenvolveram importantes lutas ao longo do ano de 2010.

Duas conquistas fundamentais das lutas nesse período foram a barragem da terceirização (forma mais brutal de exploração do trabalho e que tem gênero e cor, ou seja, a maioria dos cargos terceirizados são ocupados por mulheres e, entre estas, negras) no restaurante universitário com atendimento noturno no campus de Marília após greve dos trabalhadoras/es e ocupação da direção pelas/os estudantes e o pagamento dos salários dos lutadores na USP, após terem ficado um mês em resistência e em luta sem receberem salário (o que representa um violento ataque aos direitos das/os trabalhadoras/es, direitos estes garantidos pela própria Constituição burguesa). Configura-se cada vez mais a aliança operária-estudantil nas universidades estaduais paulistas, pois entende-se que somente com a unidade entre as categorias combativas é possível um movimento que combata efetivamente o projeto burguês (dos governos e de seus capachos, os REItores) para a Universidade. Projeto este que ilustra a opressão que a sociedade capitalista submete a classe trabalhadora e, de maneira particular, as mulheres, e que legitima e naturaliza a violência contra as mesmas. E, nesse contexto, nos últimos fóruns dos estudantes da UNESP e da Fatec vêm se configurando o desenvolvimento e amadurecimento a respeito do machismo e opressão que se expressam na universidade, pois entende-se que a universidade, no contexto da sociedade capitalista, carrega em si suas contradições.

A opressão as mulheres é anterior ao capitalismo, mas entendemos que neste sistema de classes em que o capital impera sob os trabalhadores e trabalhadoras a violência e a opressão às mulheres atingiu proporções astronômicas, sendo naturalizada pela sociedade. A violência física, moral e sexual que várias estudantes sofreram este ano nas moradias estudantis e em outros locais, assim como a violência que as trabalhadoras, em particular as terceirizadas, sofrem diariamente em seus locais de trabalho e para além dele, com as múltiplas jornadas de trabalho, advém da opressão a que as mulheres estão historicamente submetidas e que dá base a sociedade capitalista, machista e racista.

Essa violência não se manifesta apenas em casos de brutalidade física e assédios que, diga-se de passagem, não são pontuais, mas é refletida sob várias faces na universidade. A falta de creches às mães estudantes e trabalhadoras e a nova regulamentação do estatuto das moradias da UNESP de expulsar as estudantes grávidas (!!!) exemplificam o reflexo do caráter machista da sociedade na Universidade e, portanto, a exploração de uma classe sobre a outra.

Assim, a violência nessa sociedade não se expressa de igual maneira entre todas as pessoas, sendo as mulheres as mais violentadas e, entre estas, são as mulheres trabalhadoras as mais atingidas por todas as formas de opressão e violência, que incluem as múltiplas jornadas de trabalho, a repressão policial, os assédios morais, a violência física, os trabalhos mais precarizados, etc. Ou seja, a opressão não é a mesma para uma mulher rica e para uma mulher pobre, e deve ser combatida juntamente com a exploração capitalista de uma classe sobre outra.

O movimento estudantil da Unesp vem avançando em pensar os reflexos das contradições da sociedade capitalista nas universidades traduzindo essa reflexão num programa e campanhas que, além de consolidar a aliança dos estudantes com os trabalhadores, combata a opressão das mulheres. Um importante avanço foi projetado no último Congresso de Estudantes da Unesp e da Fatec (CEUF), realizado no campus de Marília entre os dias 17, 18 e 19 de setembro, em que os grupos de discussão sobre opressão não ocorreram concomitantemente aos demais grupos, mas em horário exclusivo, podendo todos os estudantes integrarem as discussões sobre opressão resultando em debates bastante qualitativos e propostas que avançaram na tomada de consciência do movimento em lutar pelos direitos democráticos das mulheres, assim como avançou-se no caráter classista sobre outros aspectos para o programa do movimento estudantil da Unesp e da Fatec. Em linhas gerais, foi fomentada a importância e o quão necessário é que se criem núcleos e espaços de discussão sobre opressão - de gênero e racial - nos campi, para que o movimento avance de conjunto ao combate as formas de violência contra a mulher na universidade. Ressaltou-se a importância da auto-organização das mulheres, estudantes e trabalhadoras, para acolher as mulheres agredidas nas universidades e que as comissões que avaliem os casos de assédio e agressão sejam compostos majoritariamente por estas mulheres, já que a resposta da burocracia acadêmica para os casos de violência foi entregar uma bolsa auxílio ao agressor e em alguns casos até reprimir as estudantes violentadas (!!!). Da mesma forma, que os casos de racismo sejam avaliados por grupos de estudantes e trabalhadoras/es e do movimento negro. As direções e a burocracia acadêmica jamais poderão responder efetivamente aos casos de violência contra a mulher, já que a estrutura de poder das universidades se sustenta sobre as contradições de classes. É necessário, portanto, que essa forma de estrutura seja combatida e não naturalizada.

Uma importante resolução do Congresso foi a construção, nos campi, de uma campanha pela descriminalização do aborto, com atividades, exposições artísticas, mesas, debates e a construção do ato Latino Americano e Caribenho pela Descriminalização do Aborto, em São Paulo, no dia 28 de setembro. O aborto clandestino faz a cada duas horas uma vítima, e sabe-se que as mulheres que morrem em decorrência do aborto são as mulheres trabalhadoras e pobres, já que a violência contra a mulher não se manifesta de igual maneira nas classes. Por isso nem Marina e nem Dilma ou qualquer candidatura burguesa poderiam representar avanço mínimo sequer para a classe trabalhadora e quiçá para as mulheres, já que são representantes de projetos de governo que sustentam a sociedade opressora e machista tal como é. As/os candidatas/os burguesas/es usam as demandas das mulheres para barganhar votos, sendo a favor ou contra o aborto de acordo com o que lhes renderá mais votos. Perfaz um direito mais do que democrático decidir pelo próprio corpo e procedimentos cirúrgicos de segurança, livre e gratuito. O Congresso dos Estudantes da Unesp e da Fatec, fomentando essa discussão e apoiando o ato, avançou em seu programa contra a opressão as mulheres e a classe trabalhadora. O Pão e Rosas esteve presente na construção do ato em São Paulo e nas atividades nos campi da UNESP.

Um outro avanço na unidade entre estudantes e trabalhadores foi a aprovação da construção da campanha contra a terceirização em conjunto com a luta que se expressa na USP e UNICAMP. A terceirização representa não apenas uma forma precária e exploratória de trabalho, com salários mais baixos e menos direitos que um trabalhador efetivo e cujos cargos terceirizados são preenchidos na maior parte por mulheres negras, mas representa também um ataque as lutas dos trabalhadores, já que divide a categoria. Convém ressaltar que uma das insígnias do movimento da UNESP é contra o trabalho terceirizado e pela imediata contratação dos trabalhadores sem concurso, e que, como acima já citado, uma das importantes conquistas das lutas foi a barragem da terceirização no restaurante universitário em Marília. A terceirização escraviza, humilha e divide. Basta de trabalho precarizado! Os estudantes da UNESP, sabendo que todas essas lutas não se restringem às Universidades Estaduais Paulistas e buscando a unidade entre o movimento estudantil das públicas e particulares, apóiam a luta exemplar dos estudantes da Fundação Santo André em defesa das trabalhadoras terceirizadas da cantina que, além de ganharem salários miseráveis, ficaram meses sem receber. Contra a decisão da reitoria em expulsar as moradoras grávidas. Por creches que atenda a demanda e por auxílio maternidade às mães estudantes! Pelo fim do trabalho terceirizado e pela contratação das/os trabalhadoras/es terceirizados sem concurso! Pelo fim de mortes decorrentes de abortos clandestinos, pelo direito de decidir pelo corpo!

Nos dias 16 e 17 de outubro realizou-se uma plenária do DCE, em que foi marcado o próximo CEUF, entre os dias 21 e 24 de abril de 2011, com o tema "Reformas Neoliberais e as perspectivas para sua superação", sendo que no primeiro dia ficou o indicativo de que seja organizado um Encontro Estadual de Estudantes, Trabalhadoras/es e Professoras/es combativos, para avançarmos no estreitamento das relações entre as categorias para os períodos de luta que se seguirão.

E, durante a plenária, aconteceu uma reunião aberta de mulheres, chamada pelo Pão e Rosas, com a presença de todas as mais de quarenta estudantes que participavam das atividades, em que, além da apresentação do grupo e de seu programa e campanhas, se pautou a opressão de gênero e racial nas universidades e as respostas que o movimento estudantil vem dando a isso. A questão do trote nas universidades foi bastante referenciada, já que o trote representa um ritual que legitima a estrutura de poder nas universidades, em que estudantes "veteranos" recebem estudantes "calouros" com atividades extremamente opressoras, após estes terem passado pelo funil social do vestibular, deixando milhares de estudantes trabalhadoras/es fora da universidade. Na Argentina, em que não existe o vestibular na passagem do ensino médio para o superior, essa prática não existe, da mesma forma que um estudante do ensino fundamental não sofre trote quando inicia o ensino médio no Brasil. Isso revela que, para muitos, passar no vestibular é uma conquista, uma vitória sobre outros concorrentes. Não devemos aceitar que essas atividades continuem legitimando o funil social que barra a entrada de milhões de estudantes nas universidades.

Além disso, este período de recepção é o período em que se potencializam os casos de violência entre as/os estudantes, em particular os casos de assédio e violência contra as mulheres. Apelidos machistas, brincadeiras em que as estudantes têm que fazer propaganda de si mesma para receberem um preço, até mesmo a obrigação de fazer sexo com veteranos são práticas que fazem parte do trote recorrentes todos os anos. Essa violência não deve ser naturalizada pelas estudantes. Que as diversas formas que se manifesta a violência contra a mulher seja combatida nas universidades. Por uma campanha contra o trote! Todos os filhos e filhas da classe trabalhadora devem ter acesso livre as universidades públicas. Pelo fim do vestibular e pela estatização das universidades privadas!

A unidade operária estudantil que se configura cada vez mais nas universidades foi ilustrada na realização do ato em frente a reitoria da UNESP, no dia 15 de outubro. A proposta desse ato era de que cada campi da UNESP encaminhasse suas reivindicações locais e gerais solicitando uma reunião de negociação com o Magnífico REItor Herman. Este ato contou com a participação de mais de dez campi da Unesp, USP, Unicamp e da Fundação Santo André. Desde de 2004 não era realizado um ato em frente a reitoria, e em um momento de refluxo das lutas que sempre representa o segundo semestre o balanço que se pode fazer é muito positivo. Nossas palavras de ordem foram somadas as palavras de ordem dapopulação que ali passavam. As palavras de ordem contra o racismo e o trabalho terceirizado, que atinge mais as mulheres, foram reivindicadas pela população que assistia ao ato, assim como a demanda pelo fim do vestibular para que todos os filhos da classe trabalhadora possam ter acesso ao ensino publico de qualidade e, também, expressaram com muito fulgor a insatisfação com os governos e a repressão policial. A reunião de negociação com o reitor da Unesp foi agendada para o dia 17 de novembro. Os estudantes aprovaram em uma plenária do DCE, no dia 16 de outubro, a construção de um outro ato, no dia 17 de novembro, em frente a reitoria. Pelo fim do vestibular, por uma universidade laica, a serviço da classe trabalhadora! Todas/os ao ato em frente a reitoria, dia 17 de novembro!

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