quinta-feira, 19 de novembro de 2009

No Haiti, nos morros e favelas, nos locais de trabalho, no campo, nas universidades, em nossas casas...

Basta
de violência contra as mulheres!

Chegamos ao mês da consciência negra num contexto de recrudescimento da violência policial e racista que sofrem as mulheres e o povo negro nas periferias e favelas do Brasil. Por isso, o 20 de novembro tem que ser um dia de denúncia e combate às atrocidades contra o povo negro, apesar de todos os discursos de que o racismo é coisa do passado. A presidenciável Dilma Roussef, declarou que o crime organizado cresceu nas favelas pela falta de intervenção do Estado, propondo a “disputa do bem”, que significa reforço e investimento da polícia nos morros, com controle militar sobre o cotidiano dos moradores e constantes humilhações à comunidade negra e pobre.

Obama, primeiro presidente negro dos EUA, desde sua candidatura fortaleceu um discurso a favor dos negros, mulheres e imigrantes, mas rapidamente prova que veio para aprofundar a política imperialista e não irá parar com a violência contra as mulheres dos povos oprimidos. Assim que assumiu a presidência, sua política foi de injetar bilhões de dólares no sistema financeiro para salvar os capitalistas da crise. Mantém suas tropas no Iraque, Paquistão e Afeganistão (e ainda assim ganhou o Nobel da Paz!) justificando ser a verdadeira “guerra contra o terrorismo”. Foi conivente com o golpe de estado em Honduras, que teve uma brava mostra das feministas em resistência, junto ao povo hondurenho se mobilizando contra o golpe. E no último dia 13/10 aprovou no Conselho de Segurança da ONU a manutenção das tropas no Haiti, dirigida pelas tropas brasileiras do governo Lula que quer “mostrar serviço” para o imperialismo e hipocritamente faz seu discurso humanitário, mas que significa para as mulheres, crianças e todo o povo haitiano, nada menos do que mais violência, estupros, assassinatos e repressão às mobilizações populares. Contra a violência às mulheres e crianças haitianas, gritamos: Somos as negras do Haiti! Fora as tropas da ONU!

No Brasil, vemos pela TV Lula se vangloriar que foi o primeiro país a sair da crise, mas esconde que a saída só valeu para os capitalistas que se beneficiaram com a injeção de 360 bilhões de reais, enquanto os trabalhadores e o povo brasileiro pagam os prejuízos. No campo, enquanto o MST é criminalizado, os capitalistas do agro-negócio ganham milhões com ajuda do governo. A Síntese de Indicadores Sociais, recente pesquisa publicada pelo IBGE, demonstra que o crescimento do país beneficiou apenas os grandes capitalistas, mas a miséria, a fome, a baixa escolaridade, a falta de um sistema de saúde digno se mantém para a maioria da população.

As mulheres, apesar de terem mais anos de escolaridade que os homens, continuam recebendo salários menores. A maioria das crianças continua em situação de pobreza. O povo negro continua tendo menor escolaridade que os brancos, recebendo menores salários, e se tratando das mulheres negras a situação é pior ainda, são as que ocupam os postos de trabalhos mais precarizados e sofrem cotidianamente com a violência policial nas favelas, vendo seus filhos serem mortos, além de serem estupradas pela polícia em suas operações facínoras nos morros. O governo está comemorando a vitória do Brasil para sediar as Olimpíadas em 2016 no Rio de Janeiro, mas isso significa maior repressão ao povo pobre das favelas, para afirmar a imagem do país receptivo fazendo a “segurança” dos turistas. Terá o aumento da prostituição infantil, do turismo sexual e da exploração das mulheres negras mercantilizando seus corpos com o slogan das “mulatas do carnaval”. Violência e repressão que será exercida também sobre mulheres e povo sul africano, com a Copa 2010 na África do Sul.

Diante do respiro econômico que se liga a uma maior precarização do trabalho, recentemente diversas categorias se mobilizaram e enfrentaram a patronal, o governo e a burocracia sindical em importantes greves. Correios, metalúrgicos, professores, garis, bancários, INSS, só para enumerar alguns... Ainda que muitas destas greves tenham sido por reivindicações de melhorias de salários e condições de trabalho, esta é a prova de que a classe trabalhadora mobilizada e disposta a lutar, é capaz de derrubar os diários ataques de que são vítimas. O grande exemplo de luta foi a greve impulsionada pelos trabalhadores e trabalhadoras da USP, que vêm travando uma importante batalha junto aos estudantes e professores, e têm sido vítimas da intensa repressão por parte do governador Serra, a reitora Suely Villela e a polícia: todos representando os interesses burgueses e agora com seu mais novo representante, o novo reitor Grandino Rodas. Esses lutadores, como os trabalhadores do MST, que além de brutalmente assassinados são massacrados pelo governo de Yeda Crusius e difamados pela mídia burguesa, são ainda chamados de vândalos pelo presidente, deixando claro seu forte atrelamento com os latifundiários e políticos envolvidos em assassinatos de trabalhadores rurais sem terra. Recentemente, o governo Yeda mandou invadir a sede da FAG (Federação Anarquista Gaúcha) como mais uma demonstração de repressão por parte do Estado contra a mobilização dos movimentos populares e da classe trabalhadora. Basta! Diante disso gritamos: Abaixo a repressão! Por uma ampla campanha nacional contra a repressão aos movimentos sociais, sindicais e camponeses e contra a repressão policial aos negros e pobres nas favelas e periferias!

A caminho do dia 25 de novembro, dia internacional de combate à violência contra a mulher, nos deparamos com barbáries sustentadas, legitimadas e potencializadas pela exploração capitalista. São estupros, espancamentos, assassinatos, exploração sexual e tráfico de mulheres e meninas. Mulheres imigrantes vindas da Bolívia são vítimas da exploração das indústrias têxteis. Além de violência física e sexual, a precarização e superexploração do trabalho feminino também são uma forma de violência contra as mulheres, assim como o assédio moral nos locais de trabalho. O Estado e a Igreja nos privam de decidirmos sobre nossos próprios corpos, enquanto o aborto clandestino tem como conseqüência a morte de milhares de mulheres. E o direito à maternidade plena segue sendo negado com um sistema de saúde público precário, pressões dos patrões para que as mulheres não engravidem, entre outros fatores. E o que faremos agora com o acordo entre Lula e o Vaticano, que somente dá mais privilégios à Igreja? A mesma Igreja que se impõe sobre a vida das mulheres que morrem por conseqüências de abortos clandestinos, também se impõe sobre a vida de milhões de pessoas quando condena o uso de camisinhas que além de prevenir gravidez indesejada, previne várias DST’s, quando nos aproximamos do Dia Internacional de luta contra a AIDS, 01 de dezembro.

E nesse mesmo Brasil, o país onde a burguesia brasileira nos oferece uma demagógica “emancipação” através de uma suposta “liberdade sexual” e da exposição de nossos corpos, casos como o da estudante Geisy, ao ser ameaçada de estupro e agredida pelos estudantes da UNIBAN por usar um vestido curto na universidade, é produto de uma moral burguesa que mercantiliza o corpo da mulher, para controlá-lo. Mas é também produto de uma sociedade dividida em classes, onde o poder de uma instituição de ensino como a UNIBAN está nas mãos de uma cúpula de diretores onde os estudantes e funcionários não têm voz. Tanto é que a resposta da UNIBAN foi a expulsão da jovem, com um recuo rápido, quando distintos setores da sociedade se pronunciaram diante de tamanho reacionarismo. É preciso lutar pela punição e destituição da direção desta universidade, assim como pela estatização e por uma estrutura de poder democrática como única saída real para que a comunidade universitária tome para si os destinos da universidade. Enquanto isso não acontecer, novas Geisys surgirão, talvez de forma mais dissimulada, latente, escondida, mas sempre como forma de perpetuação dessa opressão milenar que sofremos. As estudantes vítimas de assédio sexual nas moradias estudantis devem se unir às estudantes das universidades privadas numa luta contra a opressão às mulheres, mas entendendo que se trata de uma luta maior contra esse sistema de ensino excludente, machista e racista, e conseqüentemente, contra toda esse sistema capitalista.

A violência contra a mulher não é uma questão individual ou privada. A violência está diretamente ligada à opressão histórica da mulher que se inicia junto com o surgimento da propriedade privada. Nos dias de hoje, o capitalismo se beneficia super-explorando as mulheres, dividindo a classe trabalhadora e lucrando de maneira exorbitante, além de legitimar e justificar a violência contra as mulheres. Por isso dizemos que nossa luta não é apenas contra o machismo, e sim contra esta sociedade de opressão e exploração chamada capitalismo. E por mais que haja leis em defesa das mulheres, esbarram numa grande contradição: essas leis são feitas pelo mesmo Estado que garante manutenção dos órgãos de repressão e da propriedade privada, o mesmo Estado que reprime e mata.

Mulheres, é necessário que acreditemos em nossas próprias forças. É por isso que neste mês de novembro queremos organizar um amplo e impactante dia contra a violência às mulheres que seja combativo, contra o governo, classista e anti-capitalista. Também por tudo isso, estamos lançando a campanha pela retirada das tropas “Somos as negras do Haiti” e estamos participando de eleições estudantis na PUC-SP, na USP, na Unicamp e na Unesp, colocando toda essa luta como parte das chapas que impulsionamos. Também com esse espírito estivemos no Congresso Estatutário do SINTUSP, onde aprovamos a organização anual de um Encontro de Mulheres Trabalhadoras. Queremos que você, mulher trabalhadora, efetiva ou terceirizada, estudante, camponesa, dona de casa, desempregada, junte-se a nós nessa luta para gritar: Seja no Haiti, nos morros e favelas, em nossos locais de trabalho, no campo, nas universidades, em nossas casas: Basta de violência contra as mulheres!
...e que as mulheres do Haiti escutem nossas vozes!

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