quinta-feira, 2 de abril de 2009

Entrevista com Maria Beatriz Abramides sobre o livro "Lutadoras..."

O livro Lutadoras. Histórias de mulheres que fizeram história foi lançado na PUC-SP com a presença de mais de 150 estudantes, trabalhadores e trabalhadoras e professores da universidade. A mesa contou com as professoras Maria Beatriz Costa Abramides e Vera Vieira, e as organizadoras do livro Andrea D’Atri e Diana Assunção. Entrevistamos Maria Beatriz Costa Abramides, Professora da Faculdade de Serviço Social - PUC-SP que participou do lançamento do livro, atividade apoiada pela APROPUC, entidade da qual é Diretora.

Qual a importância do livro Lutadoras?

O livro Lutadoras foi lançado primeiramente em espanhol na Argentina em 2006, pelas edições IPS - Instituto do Pensamento Socialista - tendo sido organizado por Andrea D’Atri. Em 2009 foi lançada, no Brasil, sua versão pelas Edições ISKRA, em março de 2009, acrescido do anexo referente às mullheres no ascenso do movimento operário de 1978 a 1980 e tem como organizadoras do livro Andrea D'Atri e Diana Assunção.
As organizadoras são militantes revolucionárias no movimento de mulheres trabalhadoras da Argentina e do Brasil. Andrea D'Atri publicou em 2004 na Argentina e, em 2008 no Brasil, também pela ISKRA, o livro Pão e Rosas - Identidade de gênero e antagonismo de classe no capitalismo. Nesse livro a opressão das mulheres se insere na história da luta de classes sob orientação teórica marxista, posição assumida pelas mulheres na luta contra a exploração e opressão capitalista. Andrea é uma das fundadoras do agrupamento Pão e Rosas na Argentina e militante do PTS - Partido dos Trabalhadores Socialistas. Diana Assunção é uma jovem estudante de história da PUC-SP, uma das fundadoras do grupo Pão e Rosas no Brasil, responsável pela Coleção Mulher das Edições ISKRA e militante da Liga Estratégia Revolucionária.
O livro Lutadoras tem um significado histórico para mulheres e homens que lutam por uma sociedade sem exploração de classe e qualquer tipo de opressão social, de gênero, etnia, orientação sexual. O livro trata a história de mulheres lutadoras que fizeram história escrito por mulheres lutadoras que fazem história. Escrito a muitas mãos, Lutadoras é resultado de uma pesquisa realizada por mulheres no Brasil, Argentina, Chile, México e que são respectivamente: Andrea D’Atri, Diana Assunção, Bárbara Funes, Ana Tossato, Ana López, Jimena Mendoza, Celeste Murillo, Marina Fuser, Virgina Andrea Peña, Adela Reck, Malena Vidal, Gabriela Vino. Trata-se de uma produção coletiva, no sentido exato do termo, construído em uma mesma direção teórica no âmbito do materialismo histórico-dialético, em direção ao socialismo. Isso faz com que de forma viva e emocionante nos deparemos com as lições das militantes apresentadas neste livro em diferentes momentos da história do capitalismo, mas todas elas em frentes de lutas e combate na perspectiva de uma sociedade sem exploração e opressão. O Livro está organizado em Mulheres Pioneiras: Flora Tristan e Louise Michell; Internacionalistas: Rosa Luxemburgo e Clara Zetkin; Rebeldes: Carmela Jeria, Lucrecia Toriz e Marcia Cano; Combativas: Marvel Scholl e Clara Dunne e Genora Johnson Dollinger; Vermelhas: Natalia Sedova, Pen Li Lan, Mika Etchebéhere. Indomáveis: Nadehzda Joffe, Edith Bonne e Patrícia Galvão. O livro consta de 325 páginas de histórias de mulheres rebeldes e revolucionárias que lutaram pela causa da luta operária, tendo como fio condutor a questão da mulher do ponto de vista da classe.

Qual o significado do lançamento de Lutadoras num momento de crise capitalista?

A crise do capitalismo, a partir de 2008, já é considerada a maior crise desde 1929. Trata-se de uma crise estrutural de superprodução, com alta queda nas taxas de lucro em que os governos capitalistas, em uma perspectiva salvacionista, depositam estrondosa quantia de dinheiro público nas mãos de empresários e banqueiros. A consequencia é ampliação da barbárie, com aumento do desemprego, demissões em massa, intensificação da precarização do trabalho, redução de postos de trabalho, destruição de direitos sociais (saúde, educação, previdência) e trabalhistas. A resposta do capital a sua crise de superprodução amplia ainda mais a superexploração da classe trabalhadora, incidindo fortemente sobre a mulher trabalhadora. Historicamente no interior da classe trabalhadora, a mulher tem sido a mais explorada, com trabalho igual para salário desigual, trabalho polivalente, dupla jornada de trabalho, ritmo acelerado de trabalho, ampliando a mais-vlalia absoluta pel;o trabalho feminino que produz em alguns setores, em menor tempo, em maior quantidade a mercadoria, por menores salarios. O momento atual da conjuntura internacional e latino-americana abre a possibilidade de ampliação da luta de classes, e o marxismo revolucionário e as lições das mulheres revolucionárias na história nos auxiliam para as lutas históricas necessárias à conquista do projeto de emancipação humana.

Porque é importante que Lutadoras chegue cada vez mais as mulheres?

Porque aprendemos com a história de lutas dessas mulheres na história da humanidade, no combate ao capitalismo. A lógica do capital se opõe ao processo de emancipação da classe e somente com o fim das classes, da propriedade privada dos meios de producão, com o fim do capitalismo é possível conquistar uma sociedade igualitária dos individuos sociais- a emancipação humana. A perspectiva revolucionária tem centralidade neste momento histórico mundial e as mulheres, do ponto de vista da classe, jogam um papel fundamental neste processo, posto que não há emancipação das oprimidas e oprimidos se não for lutando pelo fim da exploração capitalista, pela revolução socialista. O livro Lutadoras, pode ser um excelente instrumento para o combate teórico e político e de ânimo para a juventude tão fundamental para as frentes revolucionárias.

O que acha da necessidade de organização das mulheres na luta por seus direitos?
A luta das mulheres trabalhadoras, operárias é histórica. A dominação e opressão das mulheres se inicia antes mesmo do capitalismo, e desde sempre justificam-se suas lutas. Até porque a história da humanidade tem sido a história da dominação de classes e portanto da luta de classes. Porém, no capitalismo a dominação de classes se dá pela exploração da força de trabalho humano, de uma classe sobre a outra, A burguesia se apropria da riqueza socialmente produzida pelo proletariado. Assim a luta pelo fim da opressão de gênero não pode estar desvinculada da luta pelo fim da opressão de classe. É claro que a luta das mulheres deve ser tratada do ponto de vista das lutas imediatas como salário igual para trabalho igual, direitos democráticos como o direito ao aborto, mas as autoras insistem, e estou de acordo com elas, de que é fundamental que a “a classe operária, começando por suas mulheres, integre a questão de sua emancipação em seu programa revolucionário” (D'Atri e Assunção, 2008:20).

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